Lula faz ato do 8/1 sob mal-estar com militares e ausência de expoentes do Congresso

Brasília

O presidente Lula (PT) prepara para esta quarta-feira (8) cerimônia em memória dos atos golpistas de janeiro de 2023 em meio a esvaziamento político e descontentamento de militares.

Em 8 de janeiro daquele ano, uma horda de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) saiu de um acampamento diante do QG do Exército e destruiu as sedes dos Três Poderes, em Brasília.

A data ficou marcada com um dos maiores ataques à democracia —o STF (Supremo Tribunal Federal) já condenou 375 réus pelos ataques, que resultaram na denúncia de 1.682 envolvidos.

Embora tenha ouvido confirmações informais de presença, segundo relato de integrantes do governo, Lula pode ver frustrada a expectativa de participação de representantes de partidos que integram a sua base governista, limitando a agenda a uma manifestação de esquerda.

O presidente anunciou o evento em sua última reunião ministerial no ano passado, e pediu que todos os chefes das pastas estivessem presentes em Brasília. Ele tem repetido que espera fazer de 2025 um marco em defesa da democracia na política.

Mas, na caserna e dentro do próprio governo, há receio de que discursos inflamados acirrem os ânimos no meio militar, já abalado com a prisão de oficiais de alta patente.

Os presidentes dos Três Poderes, Luís Roberto Barroso, do STF, Lula (PT), e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), do Senado, no evento “Democracia Inabalada”, que marcou um ano dos atentados de 8 de janeiro de 2024 – Gabriela Biló/Folhapress

Há ainda o risco de baixas entre aliados do centrão. Apesar de terem sido convidados parlamentares, governadores e ministros, a cúpula do Congresso não deve comparecer.

A assessoria do presidente do SenadoRodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que ele está em viagem, programada anteriormente, mas que o primeiro vice-presidente da Casa, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), representará o Senado na ocasião.

A negativa decepciona o Planalto, que contava com sua presença, devido à sua atuação em defesa da democracia.

As cerimônias acontecem em um momento de redesenho da Esplanada, com a possibilidade de nomeação de líderes do Congresso numa reforma ministerial. O nome de Pacheco é frequentemente citado nessas conversas.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por sua vez, está em Alagoas com o pai, Benedito Lira (PP-AL), doente. Apesar de não ter confirmado a sua ausência, ela é dada como certa por aliados. No evento do ano passado, pressionado por bolsonaristas, ele também não compareceu.

De acordo com relatos, o próprio presidente chegou a convidá-los. E, antes do Natal, teria recebido confirmações das presenças.

Também não devem comparecer os prováveis sucessores das presidências das Casas. O senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) estão em seus redutos eleitorais durante esse recesso.

A eleição para as mesas ocorrerá no início de fevereiro, na volta do recesso parlamentar. Sua presença poderia afugentar parlamentares bolsonaristas, eleitores na disputa pelos comandos da Câmara e Senado.

Dirigentes partidários de siglas que integram a Esplanada também não acompanharão a cerimônia do governo: Gilberto Kassab (PSD), Baleia Rossi (MDB) e Marcos Pereira (Republicanos).

Além disso, o governo encerrou um ano sob tensão com deputados e senadores, após meses de imbróglio sob pagamento de emendas com o STF. Integrantes do Planalto acreditam que ao menos parte das baixas possa ser justificada com o clima de descontentamento.

Da parte do Supremo, apenas três participarão. O ministro Edson Fachin comparecerá representando a presidência, no lugar de Luís Roberto Barroso. Além dele, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes vão comparecer.