Frustraram-se os jornalistas que chegaram na hora ao almoço anual da Febraban para pegar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já na entrada. O tempo passava, e ele não aparecia. Descobriu-se, depois: chegara antes da hora.
O gesto poderia ser visto como ansiedade. O ministro iria se encontrar com a banca financeira nacional, e a cotação do dólar no mercado à vista já havia ido a R$ 6,11, outro recorde constrangedor pós-anúncio do pacote de corte de gastos. A interpretação da performance no evento, porém, foi outra: de que Haddad aproveitou, do jeito certo, uma boa oportunidade.
Em vez de fazer o tradicional monólogo que marca esse tipo de encontro, o ministro foi entrevistado pelo presidente da Febraban, Isaac Sidney, e pelo diretor de comunicação da entidade, João Borges. A dupla perguntou o que todo mundo na plateia tinha vontade. Não aliviou. A entidade jura que as perguntas não foram combinadas.
Para o leitor entender o nível de clareza da conversa, Sidney chegou a lembrar Haddad de que se o presidente Lula prometeu, durante a campanha, ampliar a faixa de isenção do IR, também prometeu equilíbrio fiscal.
Haddad deu todo tipo de explicações. Reforçou o seu empenho pelo corte de gastos. Falou de como é árduo contornar despesas herdadas de outros governos. Sinalizou que pode trazer outras medidas para aprimorar o ajuste fiscal. Nas entrelinhas, uns viram desabafo; outros, pedido de desculpas.
Isso não quer dizer, comentaram os presentes, que o dólar vai voltar para onde estava antes da confusão. Agora, é monitorar o andamento do que foi apresentado, e ver se vem mais coisas, como Haddad sugeriu.
Encerradas as falas, antes mesmo de deixar a mesa, o ministro foi cercado por jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas. Para se desvencilhar daquela onda, saiu pela primeira porta que viu pela frente, a da área da cozinha —simbolicamente, aquela parte da casa onde os brasileiros só deixam passar os mais chegados.