O INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e o Previdência Social vão devolver, na folha de pagamento de maio, mensalidades associativas que tenham sido descontadas de aposentadorias e pensões no mês de abril.
Após a devolução, não haverá mais débito desse tipo de cobrança, em virtude da suspensão dos ACTs (Acordos de Associação Técnica) com associações e sindicatos. A medida ocorre após a operação Sem Desconto, da Polícia Federal e da CGU (Controladoria-Geral da União), desencadeada na quarta-feira (23) para apurar irregularidades nestes contratos.
O valor será depositado diretamente na conta do aposentado ou pensionista, entre os dias 26 de maio e 6 de junho. O dinheiro estará junto com o pagamento de maio, que também terá a o depósito da parcela do 13º, e cai na conta conforme o número final do benefício, sem considerar o dígito verificador.
Segundo nota da Previdência, como os descontos foram suspensos, os segurados não precisam solicitar o cancelamento. Também não é necessário ir até uma agência do INSS para fazer esse pedido.
Quem teve desconto de mensalidade associativa antes de abril deste ano, e não reconhece o valor por não ter assinado contrato com a associação ou sindicato, deve esperar avaliação de grupo formado pela AGU (Advocacia-Geral da União) sobre como será feita essa devolução.
Em agosto de 2019, o INSS também devolveu um montante de R$ 57 milhões em descontos feitos em aposentadorias e pensões por quatro associações que tiveram seus ACTs com o órgão cancelados após investigação.
Na época, a medida atingiu 800 mil benefícios. Na época, o instituto afirmou que, além das irregularidades constatadas nos descontos, a decisão de rescindir os convênios ocorreu pelo aumento, em 2018 e 2019, na quantidade de reclamações apresentadas por segurados ao INSS.
Entenda o caso dos descontos ilegais nos benefícios do INSS
O esquema envolvendo descontos ilegais nas aposentadorias e pensões do INSS envolve cerca de R$ 6,3 bilhões em débitos —entre valores legais e ilegais— somente entre os anos de 2019 e 2024, segundo a operação Sem Desconto.
A ação levou à demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. Ele, outros quatro servidores do órgão, e um policial federal foram alvos de mandatos de busca e apreensão, sequestro de bens e pedidos de prisão temporária em 13 estados e no Distrito Federal.
Segundo a investigação, o esquema teria começado em 2016, ainda na gestão de Michel Temer (MDB), mas ganhou força a partir de 2019, na gestão do então presidente Jair Bolsonaro (PL), e atingiu a casa dos bilhões a partir de 2023, no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após ações do Congresso nacional que teriam facilitado os descontos.
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As associações são entidades às quais aposentados e pensionistas podem se filiar para ter benefícios como plano de saúde, academia, dentista, colônia de férias e consultoria jurídica para entrar com ações judiciais, entre outros. É descontada uma mensalidade diretamente do benefício previdenciário.
Em 2024, uma instrução normativa conjunta do INSS e do Ministério da Previdência Social, publicada por determinação do próprio Stefanutto, impôs regras mais duras para tentar conter o avanço dos descontos ilegais.
Entre as normas estavam a biometria do aposentado que autorizava o desconto e assinatura eletrônica confirmando que estava ciente de que se filiou à associação ou sindicato. A biometria, no entanto, foi implantada apenas em fevereiro deste ano, quase um ano depois da normativa.