Principal alvo da megaoperação contra PCC tem mais de 40 contatos de policiais; Corregedoria pede reabertura de inquérito

A Corregedoria da Polícia Civil pediu à Justiça a reabertura do inquérito que apurava a relação do empresário Mohamad Hussein Mourad com 47 policiais civis de São Paulo. Ele, que é o principal suspeito de comandar a lavagem de dinheiro do grupo criminoso Primeiro Comando da Capital (PCC), está foragido.

O pedido foi assinado pelo delegado Wellington de Freitas, da 4ª Delegacia de Crimes Funcionais, após a megaoperação da semana passada, que investiga a infiltração da facção no setor de combustíveis.

Em 2024, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) apreendeu um tablet de Mohamad Mourad. Na lista de contatos do empresário, os investigadores identificaram os nomes de 47 policiais civis e, à época, solicitaram à Corregedoria da corporação a abertura de um inquérito policial, que acabou sendo arquivado.

No ofício encaminhado nesta semana à Justiça, o delegado da Corregedoria afirma que o inquérito foi encerrado sem uma análise completa de todos os contatos encontrados no tablet de Mohamad.

O delegado pondera ainda que a maioria dos policiais com quem o empresário mantinha contato não foi identificada nem ouvida.

Ainda de acordo com o delegado, Mohamad confirmou, em seu depoimento, que mantinha contato com policiais para agilizar procedimentos. Na visão da Corregedoria, a fala reforça a necessidade de aprofundar as investigações.

No documento, o delegado faz um breve resumo dos depoimentos prestados por sete dos 47 policiais identificados no inquérito e classifica as informações como inconsistentes.

Arapongagem

 

Na mesma representação endereçada à Justiça, o delegado também faz referência a um suposto esquema de investigação ilegal (“arapongagem”) montado por Mohamad Mourad “envolvendo campanas com policiais civis e até grampo telefônico ilegal para espionar executivos da concorrência”.

O termo arapongagem refere-se a práticas de espionagem, investigação secreta e coleta de informações, muitas vezes ilegais, para fins de vigilância e manipulação.

A defesa de Mohamad Mourad nega qualquer prática de crime e afirma que provará a inocência dele durante a investigação.

Grupos criminosos

 

A megaoperação da semana passada contra o PCC mostra que, além da facção criminosa, o esquema bilionário de lavagem de dinheiro envolvendo postos de combustíveis e fintechs contou com a participação de mais cinco grupos criminosos.

De acordo com a força-tarefa, são eles:

  • Grupo Mohamad – liderado por Mohamad Hussein Moura e Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”, atuava na cadeia de produção de combustíveis, incluindo usinas de cana-de-açúcar, distribuidoras, formuladores, empresas químicas, postos, lojas de conveniências e padarias. Seus integrantes, incluindo familiares de Mohamad, são acusados, por exemplo, de fraudar bombas de combustíveis, adicionando metanol a gasolina e ao álcool, montando uma espécie de cartel. Mantinham ligação com traficantes de drogas e armas do PCC.
  • Grupo Ricardo Romano e Potenza – o empresário Ricardo Romano é suspeito de lavar dinheiro para o crime organizado por meio de postos de combustíveis e lojas de conveniência. Segundo a força-tarefa, ele tem envolvimento com o PCC e participava de esquema de sonegação fiscal, usando “laranjas” para ocultar a origem de seus bens. A Potenza Atacadista tem ligação com Romano. É uma empresa de fachada usada para ocultar verdadeiros beneficiários de rede de lojas de conveniência que visava lavar dinheiro para a organização criminosa. Um de seus sócios, Gilvan Ferreira, tem condenação por associação ao tráfico de drogas;
  • Família Cepeda Gonçalves – responsável pela Rede Boxter, foi identificada como tendo atuação no setor de combustíveis e conexões com organizações criminosas. O grupo é formado por Natalício Pereira Gonçaves e seus filhos. A rede deles possui postos de combustíveis;
  • Irmãos Salomão – esse grupo tinha contato com Vinicius Gritzbach e José Carlos Gonçalves, o “Alemão” _ ambos conhecidos por lavarem dinheiro para criminosos e para o PCC. Gritzbach foi morto em 2024;
  • Grupo Manguinhos – refinaria de combustíveis, que atualmente se chama Refit, passou a operar em favor do grupo Mohamad. Se associou a família Mohamad, que estabeleceu filiais de distribuidoras e terminais em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, indiciando uma atuação coordenada.

Ainda segundo a investigação, membros do PCC se infiltravam em instituições financeiras e adquiriam postos de combustíveis para lavar dinheiro, como o obtido com o tráfico de drogas.

Os envolvidos são acusados de cometer crimes contra a ordem econômica, fraude fiscal e estelionato a partir da adulteração de combustíveis.

A Justiça também determinou o cumprimento de mandados de prisões. A operação ocorreu na última quinta-feira (28) em São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Segundo a investigação, com esse esquema, o PCC adquiriu mais de R$ 30 bilhões em bens patrimoniais no Brasil, como ações em fintechs (algumas na Avenida Faria Lima, na capital paulista), propriedades em fazendas de cana-de-açúcar e postos de combustíveis.

Segundo a Receita Federal, R$ 7,6 bilhões deixaram de ser declarados em São Paulo. A sonegação fiscal também foi verificada em outros estados.